Deputado e pastor diz que Lula errará se ceder a evangélicos em troca de apoio.

Vinicius Carvalho vai na contramão e elogia revogação de portaria que beneficia igrejas

Por Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro — De Brasília

Valor Econômico 15/04/2024

Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) por 31 anos, o deputado federal Vinícius Carvalho (Republicanos-SP) afirma que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) errará se aceitar tratar com os pastores na base do “toma lá dá cá” em troca de apoio do segmento evangélico, grupo eleitoral com maior rejeição ao petista, e critica os líderes que usam as redes sociais para pregarem suas visões políticas para os fiéis. Para ele, o governo acerta, do ponto de vista de gestão, ao tentar barrar iniciativas de isenção tributária para as igrejas e seus líderes, mas isso pode aumentar as celeumas com os religiosos.

“Aproximar-se [dos líderes religiosos] é importante. Mas só que vivemos uma realidade dentro da política que se chama, em linguagem bem popular, do toma lá dá cá. Se você quer apoio, vai ter que ceder aos interesses da instituição ou da igreja em nome de Deus. Fala-se muito em nome de Deus para alcançar os objetivos subjetivos”, disse, em entrevista ao Valor.

O parlamentar destaca que “não queria estar na pele do governo” nesta situação e que líderes descontentes utilizarão essas negativas a seus pedidos para influenciar os fiéis das igrejas, seja no púlpito – de forma velada – ou fora dele. “Toda vez que o governo ceder a uma pressão do líder religioso, ele está fadado a ter que ceder a pressões de todos os outros segmentos”, pontua.

Carvalho é evangélico há 38 anos e, por 31 deles, foi pastor da Iurd. Também atuou em outros “braços” da instituição religiosa: como diretor da TV Record e presidente estadual do PRB, atual Republicanos. Foi deputado federal pelo Rio de Janeiro por um mandato, ao fim do segundo governo Lula (PT), e agora está no terceiro mandato seguido por São Paulo. No governo Bolsonaro (PL), ele liderou a bancada do Republicanos na Câmara.

Desde dezembro de 2022, comunicou sua saída e se desligou da Universal. Hoje está em ministério pastoral independente, sem vínculo com instituições. “Assim como, há 31 anos, recebi de Deus um chamado e Ele disse: ‘Vem ser pastor aqui na Igreja Universal.’ Agora recebi de Deus uma direção, digamos assim, de que ‘seu ciclo aqui passou’”, afirma.

Eu represento, evangélicos, mas meu posicionamento não pode ser cego”

Ele diz não ter “nada de mau” a falar sobre a Iurd, mas que lá os pastores só podem fazer o que a direção da igreja determina, sem independência, e recorre a um versículo bíblico (Gálatas 5:1) para explicar sua decisão: “Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres. Por isso, continuem firmes como pessoas livres e não se tornem escravos novamente”, recita. “Ele deu a vida Dele na cruz do calvário para que eu possa ter minha liberdade e não posso abrir mão disso.”

Carvalho segue frequentando cultos, agora na Igreja Cristo Vive, em São Paulo, e faz pregações quando convidado nas incursões ao interior, mas diz que o compromisso prioritário hoje não é com a atividade de pastor, mas com o mandato parlamentar. “Meu ministério hoje, propriamente dito, é o ministério da política, para agir em nome das liberdades religiosas”, diz. Está se aprofundando na área: é mestre em gestão pública e cursa doutorado sobre políticas públicas.

Nesse ponto, Carvalho critica tanto Lula quanto o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por “não entenderem a liturgia” do cargo e darem declarações sobre suas opiniões pessoais, como no caso em que o petista comparou o assassinato de civis em Gaza pelo governo de Israel à ação do líder nazista Adolf Hitler contra os judeus. “Ele falou como se a voz do Brasil fosse essa, e não é a voz do Brasil. É a voz dele, vestido de presidente da República”, diz. Isso, destaca, causa conflitos internacionais e com os evangélicos.

Da mesma forma, ele critica líderes religiosos que utilizam as redes sociais para influenciarem politicamente seus fiéis. “Mesmo não estando no púlpito, o líder religioso, quando está numa rede social levando o pensamento dele, está influenciando pessoas a seguirem o pensamento dele. Isso é muito complicado”, diz. “Muitas vezes, o posicionamento de alguns líderes religiosos ultrapassa, excede em muito, o posicionamento de Jesus Cristo em sua palavra”, afirma. “Quando se vê uma autoridade religiosa falar mal de uma autoridade, em sua maioria, as pessoas vão se deixar levar por aquela opinião.”

Um dos pontos que causaram divergência entre Lula e o segmento religioso foi a revogação de portaria editada pela Receita Federal no fim do governo Bolsonaro que concedia isenção das contribuições previdenciárias a “ministros de confissão religiosa”, como pastores e padres.

Para Carvalho, a decisão governamental gera danos à imagem junto aos segmentos religiosos, mas foi acertada. “Como especialista em gestão pública, concordo com este tipo de veto. Vivemos num sistema previdenciário, que é o regime geral, que é contributivo e solidário. Contribuo para que os aposentados hoje possam receber”, afirma. “Se eu coloco mais pessoas dentro de uma casta, que tem um benefício, alguém vai pagar esta conta. O governo está agindo conforme a responsabilidade que ele tem com o erário ao vetar isso.”

Na opinião dele, a Câmara e o Senado têm legitimidade para fazer movimentos políticos em relação a esse veto, assim como a bancada religiosa, mas a posição do Executivo foi correta. “Eu represento, também, evangélicos, mas meu posicionamento não pode ser simplesmente cego. Tenho responsabilidade enquanto parlamentar. Este é um ponto que criou ainda mais celeuma.”

O deputado também destoa de outros integrantes da bancada evangélica ao criticar a proposta de emenda constitucional (PEC) em discussão na Câmara para que as igrejas de qualquer religião e entidades ligadas a elas tenham imunidade tributária a impostos indiretos (como os valores embutidos na compra de um carro, armário ou banco). O governo Lula resistia, mas aceitou apoiar o projeto para não aumentar os conflitos com o segmento evangélico e agora negocia uma versão mais “focada”.

Carvalho ressalta que, “de fato”, entidades assistenciais ligadas a igrejas fazem um importante trabalho junto à população mais carente em áreas onde muitas vezes o Estado não consegue entrar, mas que, se deixarem de pagar impostos, a situação fiscal do país irá se agravar e lembra que há mais de 33 mil igrejas, apenas entre as evangélicas, no Brasil. “Quando se isenta o pagamento de um imposto, alguém está pagando aquele imposto que você foi isentado”, afirma. “Aqueles com posição mais equilibrada, que não são extremistas, vão entender isso”, comenta.

A pauta de costumes, que costuma colocar a esquerda em constantes conflitos com a bancada evangélica, também é vista de modo diferente pelo deputado. Carvalho argumenta que essas divergências se dão pela tentativa de alguns religiosos imporem suas visões pessoais para toda a população. “Cristo não ensinou isso”, diz, citando a passagem em que Jesus sugeriu que aqueles que não tinham pecado atirassem a primeira pedra em Maria Madalena por adultério.

Diante de pressões de parte dos evangélicos para proibir qualquer forma de aborto, o parlamentar – que é pai de uma médica – defende que continuem permitidos os casos já previstos em lei (estupro, risco à vida da mulher e anencefalia do feto) “por questão de saúde pública”. “Sou favorável ao aborto? Não. Mas não posso, pelo fato de eu não ser favorável, dizer que você não pode ser favorável ou não pode fazer caso tenham necessidade. Cada um toma a sua decisão e convive com as consequências disso”, diz. Da mesma forma, ele critica “defensores da ideologia de gênero” que querem “impor suas vontades” para todos. “Se temos sociedade que ainda é ‘cabeça dura’, ultrapassada nos seus conceitos, é o tempo que vai fazer amadurecer. Não é a forçação de barra.”

Essas posições, argumenta, não o colocam na base do governo Lula na Câmara. A posição é de independência: “A favor dos projetos para desenvolvimento do Brasil e contra retrocessos.” Também não mudam sua percepção de que é um “conservador de direita”.

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